Eu pergunto se está tudo bem e
sempre está. Eu pergunto se é ruim e é sempre bom. Tudo é azul, fofo,
divertido e lindo quando na verdade eu preferiria que fosse cinza, normal,
entediante e verdadeiro. Eu me corto e não sangro, eu me jogo do décimo sétimo
andar e não me machuco. As coisas não são assim. O desespero, a tristeza, as
minhas olheiras, as incertezas são físicas, humanas. Não existe só felicidade
em um sorriso, só tristeza em uma lágrima, nem só paixão nos olhos de quem ama.
Eu preciso da histeria, do
exagero, preciso desidratar a alma até que ela me faça sentir alguma coisa,
mesmo que seja a pior possível. Eu gosto disso. Eu gosto de caminhar pesado,
soberbo e com uma ponta de água nos olhos pelas ruas, gosto da minha amiga
preocupada que me vê chorar, rir e chorar de novo na mesa do restaurante. Tudo
isso me faz sentir vivo, cheio.
As pessoas debocham de quem sofre,
de quem reclama, de quem prefere o cantinho nos fundos porque nunca sangraram e
sempre estiveram ocupadas demais compartilhando sobre a perfeição de qualquer
coisa na mesa do bar, quando, na verdade, leem livros de autoajuda trancadas no
banheiro, quando, na verdade, nunca sentiram.